Tudo caminhava para uma corrida daquelas que costumeiramente se via antes da introdução do DRS, ou seja, aquele marasmo, sem brigas, sem ultrapassagens, em que se aguardava a bandeira quadriculada entre uma "pescada" e outra, mas então o inesperado aconteceu e uma reviravolta a cerca de quinze voltas do fim trouxe muita animação para quem conseguiu manter os olhos abertos.
Com vários pilotos tentando evitar uma parada extra para troca de pneus, formou-se uma fila de carros liderada por Kimi Räikkönen, que então figurava no segundo lugar, que segurava atrás de si Vettel, Button, Grosjean, Senna, Webber, Maldonado, Hamilton, Alonso e Pérez, com cerca de seis segundos separando a Lotus do finlandês da Sauber do mexicano.
Com todos esses carros agrupados, o "pau comia", principalmente com as McLarens e Red Bulls querendo ganhar espaço entre os demais, levando a uma briga franca entre os pilotos, o que deixou a prova muito movimentada, bem ao gosto daquele que aprecia o automobilismo.
A teimosia de muitos cobrou seu preço, principalmente de Kimi Räikkönen, que fez sua segunda, e última parada, na volta 28 para a colocação dos compostos médios. Sem pneus ao final, o finlandês foi caindo pelas tabelas e terminou a prova em 14º, resultado decepcionante para quem largava do quarto lugar.
Só para se ter uma ideia, daqueles que pontuaram, apenas Webber, Hamilton, Alonso, Kobayashi e Button fizeram três paradas, enquanto os demais trocaram de pneus apenas duas vezes, e desses, o último a fazer o segundo pit stop foi justamente quem menos se esperava, Nico Rosberg.
Com problemas de desgaste excessivo de pneus verificado nas duas primeiras provas, situação que se arrasta desde o ano passado, não se esperava que os carros da Mercedes fossem páreos para os rivais apesar da primeira fila do time no grid de largada.
Mas, devido a alguma atualização do carro, ou modificação no acerto, viu-se exatamente o oposto: o W03 foi o modelo que menos desgastou a borracha dos seus pneus em Jiading.
Com esse trunfo, ou seja, uma parada a menos que seus a dupla da McLaren, a primeira vitória de Rosberg após 111 participações e mais de seis anos na Fórmula 1, e da própria Mercedes nesse retornou após ter comprado e equipe Brawn GP, ficou bastante facilitada, o que não diminui em nada o mérito do filho do campeão mundial de 1982.
Com uma largada perfeita, Rosberg disparou na frente e fez aquilo que provavelmente pedia a estratégia anteriormente traçada pelo time, em especial no que diz respeito ao cuidado com os pneus.
A alegria da Mercedes, porém, poderia ser muito maior, pois analisando a prova pode-se concluir que não seria nada de se estranhar uma dobradinha do time da estrela de três pontas se não fosse a besteira dos mecânicos ao não apertarem corretamente a porca da roda traseira direita do carro de Michael Schumacher durante a primeira parada do multicampeão, levando-o ao abandono prematuro, poupando Norbert Haug de ter um "troço" no pódio.
A primeira vitória do time da Mercedes veio em muito boa hora, eis que o quadro de diretores da montadora já começava a questionar o dinheiro gasto no programa da Fórmula 1.
Outra lição que se tirou da prova na China foi o aspecto da competitividade, pois não se vê uma equipe dominante como aconteceu em 2011, e até mesmo na prova inaugural da temporada de 2012, quando as McLarens prevaleceram com certa facilidade, ainda que a dobradinha tenha escapado por uma situação circunstancial.
Do segundo colocado, Jenson Button, até o último na zona de pontuação, Kamui Kobayashi, a diferença ficou em pouco mais de dezoito segundos, o que pode ser considerado muito pouco.
É certo que tanto Button como Hamilton, após a terceira parada deles, certamente terminariam a prova mais próximos de Rosberg, quiçá teriam discutido a vitória, se não tivessem que enfrentar todo o "bolo" em razão de uma troca de pneus a mais que os outros.
Entre os demais, de se destaca o desempenho de Romain Grosjean que, ao contrário do seu colega de equipe na Lotus, soube gerenciar melhor os pneus médios no último stint e pela primeira vez consegue terminar uma prova na temporada, marcando seus primeiros pontos com um excelente sexto lugar, já que nas duas corridas anteriores não conseguiu fazer mais que quatro voltas somadas.
Pela primeira vez com seus dois carros na zona de pontuação desde o GP da Coreia de 2010, a Williams tem muito a comemorar. Há evidente progresso no carro em condições de corrida e seus dois pilotos foram capazes de aproveitar esse fato. Bruno Senna, com uma corrida consistente, marca pontos pela segunda vez consecutiva, algo inédito para ele, e Pastor Maldonado, que jogou fora um sexto lugar importante com o acidente bobo na última volta em Melbourne quando perseguia Alonso, fez na China o seu melhor resultado da carreira, o oitavo lugar, cabendo dessa vez a ele segurar a Ferrari do espanhol, e o fez como "gente grande".
Por outro lado, se a Ferrari sabia que a repetição de um novo resultado como o de Sepang seria algo praticamente impossível, é certo que o time italiano também não esperava sair da China com apenas dois pontos no bolso.
Fernando Alonso, que passou grande parte da corrida brigando com o grupo da frente, principalmente com Lewis Hamilton, foi afobado na volta 43 tentando passar Maldonado. O venezuelano deu o lado de fora para o espanhol que, em razão disso, escorregou na "farofa" formada por pedaços de pneus e foi para fora da pista, perdendo a posição para Pérez, a qual foi recuperada tempos depois. O piloto da Ferrari, no entanto, ficou apenas com o nono lugar quando poderia certamente ter figurado entre os cinco primeiros.
Já Felipe Massa traçou uma estratégia que parecia levar em consideração que os demais fariam três paradas, mas não foi isso que se viu na prova. A tática parecia acertada, mas o brasileiro esteve longe de ter um desempenho semelhante do do colega de time. Basta dizer que a melhor volta de Massa foi apenas um décimo de segundo que de Alonso, sendo que o primeiro marcou o tempo com pneus macios, enquanto que o segundo fez a volta com os pneus médios.
Além disso, entendo que o brasileiro demorou demais para fazer sua primeira parada, razão pela qual retornou atrás de Di Resta, o que impediu de evoluir na prova. Para se ter uma ideia, Bruno Senna, que largou também com os pneus médios, estava logo atrás de Massa quando entrou para fazer o primeiro pit stop seis voltas antes do piloto da Ferrari, e quando este último saiu dos boxes, estava duas posições atrás do piloto da Williams.
Ainda sim Felipe Massa terminou a corrida a apenas cinco segundos de Fernando Alonso, mas é certo que o espanhol cometeu um dos seus raros erros e ainda acabou preso atrás de Maldonado durante o quarto final da prova, razão pela qual o brasileiro ainda sofrerá grande pressão da imprensa italiana para ser substituído antes do fim da temporada.
Outro time que decepcionou foi a Sauber. Largando da terceira e sexta posições com Kobayashi e Pérez, respectivamente, esperava-se mais dos carros do time suíço, principalmente depois do mexicano ter liderado a prova após retardar ao máximo sua primeira parada, indo três voltas mais longe do que os demais com pneus macios como ele. Ao que parece, a estratégia de Pérez não funcionou e se frustrou ao ficar fora da zona de pontuação depois de um excepcional segundo lugar em Sepang.
Já o japonês largou muito mal, perdendo quatro posições na primeira volta, inclusive para o seu colega de time. Depois disso, Kobayashi desapareceu da corrida e somente voltou à cena na volta 49, quando levou uma fechada perigosa de Pérez quando este impedia que aquele ficasse com o último posto pontuável, deixando todos no box da Sauber bastante apreensivos. Ainda sim, Kobayashi fez a volta mais rápida da corrida pela primeira vez na carreira, a primeira da Sauber como equipe independente, ou seja, sem considerar as duas melhores voltas conquistadas por Nick Heidfeld no time suíço em 2008 quando estava associado à BMW.
Depois de duas provas figurando na zona de pontuação, parecia que a Toro Rosso tinha acertado a mão no SRT7, mas tudo foi por água abaixo na China, já que os carros da subsidiária da Red Bull esteve estranhamente longe do desempenho de Melbourne e Sepang. Ambos os pilotos do time italiano tiveram, em certo momento da prova, que brigar por posições com os carros da Caterham, o que demonstra o declínio repentino e inesperado.
Essa foi a classificação final do GP da Malásia:
1º | Nico Rosberg (ALE) | Mercedes | 56 voltas em 1h36min26s929 |
2º | Jenson Button (GBR) | McLaren/Mercedes-Benz | a 20s626 |
3º | Lewis Hamilton (GBR) | McLaren/Mercedes-Benz | a 26s012 |
4º | Mark Webber (AUS) | Red Bull/Renault | a 27s924 |
5º | Sebastian Vettel (ALE) | Red Bull/Renault | a 30s483 |
6º | Romain Grosjean (SUI) | Lotus/Renault | a 31s491 |
7º | Bruno Senna (BRA) | Williams/Renault | a 34s597 |
8º | Pastor Maldonado (VEN) | Williams/Renault | a 35s643 |
9º | Fernando Alonso (ESP) | Ferrari | a 37s256 |
10º | Kamui Kobayashi (JAP) | Sauber/Ferrari | a 38s720 |
11º | Sérgio Pérez (MEX) | Sauber/Ferrari | a 41s066 |
12º | Paul di Resta (GBR) | Force India/Mercedes-Benz | a 42s273 |
13º | Felipe Massa (BRA) | Ferrari | a 42s779 |
14º | Kimi Räikkönen (FIN) | Lotus/Renault | a 50s573 |
15º | Nico Hülkenberg (ALE) | Force India/Mercedes-Benz | a 51s213 |
16º | Jean-Éric Vergne (FRA) | Toro Rosso/Ferrari | a 51s756 |
17º | Daniel Ricciardo (AUS) | Toro Rosso/Ferrari | a 1min03s156 |
18º | Vitaly Petrov (RUS) | Caterham/Renault | a 1 volta |
19º | Timo Glock (ALE) | Marussia/Cosworth | a 1 volta |
20º | Charles Pic (FRA) | Marussia/Cosworth | a 1 volta |
21º | Pedro de la Rosa (ESP) | HRT/Cosworth | a 1 volta |
22º | Narain Karthikeyan (IND) | HRT/Cosworth | a 2 voltas |
23º | Heikki Kovalainen (FIN) | Caterham/Renault | a 3 voltas |
Na tabela de pontuação a carruagem de Fernando Alonso virou abóbora. Sem um carro capaz de repetir a vitória de Sepang, o espanhol perde a liderança para Hamilton que fez na China o terceiro lugar em três provas em 2012.
O campeonato, no entanto, segue bastante disputado, já que temos até agora três pilotos e três carros diferentes vencendo corridas, situação bastante oposta ao que se viu no ano passado.
Por outro lado, Felipe Massa é o único piloto dos times que já pontuaram a sair de Jiading "zerado", situação que é significativa para demonstrar a situação em que vive o brasileiro.
1º | Lewis Hamilton | 45 |
2º | Jenson Button | 43 |
3º | Fernando Alonso | 37 |
4º | Mark Webber | 36 |
5º | Sebastian Vettel | 28 |
6º | Nico Rosberg | 25 |
7º | Sérgio Pérez | 22 |
8º | Kimi Räikkönen | 16 |
9º | Bruno Senna | 14 |
10º | Kamui Kobayashi | 9 |
11º | Romain Grosjean | 8 |
12º | Paul di Resta | 7 |
13º | Jean-Éric Vergne | 4 |
14º | Pastor Maldonado | 4 |
15º | Daniel Ricciardo | 2 |
16º | Nico Hülkenberg | 2 |
17º | Michael Schumacher | 1 |
A McLaren segue na ponta no campeonato de construtores, ampliando sua vantagem para a sua mais próxima perseguidora, a Red Bull.
Já a Ferrari, que conta apenas com os pontos de Fernando Alonso, segue em terceiro, mas já a mais de cinquenta pontos de distância da líder McLaren.
1º | McLaren | 88 |
2º | Red Bull | 64 |
3º | Ferrari | 37 |
4º | Sauber | 31 |
5º | Mercedes | 26 |
6º | Lotus | 24 |
7º | Williams | 18 |
8º | Force India | 9 |
9º | Toro Rosso | 6 |
Depois de incertezas quanto à realização, o GP do Bahrein, a próxima etapa do Mundial de Fórmula 1 ocorrerá já na semana que vem após a confirmação por parte da FIA e de Bernie Ecclestone na última sexta-feira, em que pese a forte manifestação política do povo barenita, que não deseja a categoria em suas terras.
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